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Soluços de evangelização
* Por Alberto Meneguzzi

Os catequistas são heróis sonhadores. Se não fossem assim,  desistiriam. Sonhar, sonhar, cada vez mais sonhar, é o que move o trabalho anônimo de muitos catequistas. Sonham com jovens e crianças interessadas pela catequese, com pais presentes, com comunidades que entendam o real sentido do trabalho. Catequistas são heróis, e sonhadores, porque sonhar é preciso.

E o que seria das nossas paróquias se não houvesse os catequistas sonhadores?  Para alguns, que não entendem bulhufas o que é o trabalho e o que representa  ser um catequista, nada mudaria. Em muitas comunidades, e isso é real, quando uns saem outros já estão sendo convidados. Não importa de que forma, mas sempre tem alguém que aceita o convite para ser  catequista. E por ser tão fácil assim, e necessário, é que muitos são convidados na pressa e acabam aceitando sem preparo algum, apenas para que crianças e jovens não fiquem desamparados. Seria uma vergonha ter gente “matriculada” na catequese e não se ter catequistas suficientes para “dar aulas” para eles. É assim que pensam algumas lideranças paroquiais que coordenam a catequese em diversas paróquias deste imenso país. Também pensam assim, muitos padres, párocos, vigários, irmãs e até alguns bispos. E aí, entram também muitos palpiteiros e eles existem aos montes no trabalho pastoral, principalmente quando o assunto é a catequese. 

A catequese precisa ser isso, ou aquilo ou acolá, dizem alguns, que nunca pisaram numa sala de catequese e pouco conversam com os catequistas a respeito do assunto. E por necessitar ser assim, desse jeito, ou daquele outro jeito, é que vamos andando a passos lentos na tentativa de fazer as coisas de forma diferente, como pedem os documentos da igreja e os diretórios da catequese, material esse que a grande maioria dos catequistas ainda nem ouviu falar.

Temos, nesse imenso Brasil, um batalhão de catequistas com boa vontade, gente que se dispõe ao trabalho evangelizador, mas que no fundo sabem pouco ou nada da real missão que lhes foi confiada. Temos, ainda, uma multidão de catequistas que literalmente são “jogados aos leões”, sem preparo nem formação, sem nenhum tipo de orientação de como agir perante jovens, crianças, adultos e seus pais ou responsáveis, apenas com a missão de “fazer o encontro” e “preparar alguém para o sacramento”, como se a catequese fosse um cursinho qualquer.

Apesar de tudo, a catequese anda.  Ainda somos milhões de catequistas em todo o Brasil. Outros tantos milhões de crianças, jovens e adultos procuram a Igreja Católica para serem catequizados.  Mas, boa parte desses que nos procuram anualmente para “fazer a catequese”, saem dela da mesma forma que entraram. Em alguns casos, até piores. Não perseveram. Não vivem em suas comunidades. Não atuam em prol de um projeto maior. Passam a existir apenas nos registros comunitários, e depois, nas estatísticas do IBGE.

Por isso, num período que lembramos leigos e catequistas, onde milhares de homenagens serão feitas nas celebrações do final de semana e outras tantas jantas acontecerão nesse ou naquele restaurante, e onde tudo poderá parecer perfeito, é que eu lembro a importância de sonhar.  Não dá para caminhar do jeito que muitas comunidades caminham, sem planejamento, sem estrutura, sem formação, sem oração, onde cada catequista faz o que quer e cada comunidade adota o modelo que quiser e o manual que bem entender.

Não dá mais para ser assim. É preciso muito mais do que boa vontade e heroísmo. Precisamos entender a missão, a nossa responsabilidade, a importância de fazermos uma catequese que transforma, toca corações e  modifica a sociedade. Eu acredito que é hora, mais do que nunca, de refletirmos sobre qual a catequese que queremos. Não dá mais para ficar maquiando, achando que tudo está bem, quando não aprofundamos as análises, não avaliamos a caminhada e nem projetamos passos diferentes.

O dia do catequista, para mim, não é para festa. Deveria ser, isso sim, um momento de profundo recolhimento, com um olhar crítico para o “umbigo” de cada paróquia e com reflexão real do que realmente acontece quando o assunto é catequese e a ação dos catequistas.

Se não for assim, são apenas paliativos, remendos, soluços de evangelização, que animam por algum tempo, mas  que não transformam e nem apresentam o essencial, ou seja, a proposta salvadora e transformadora de Jesus Cristo.

Mas para isso,o catequista precisa, antes de tudo, ser transformado, para que depois  ele possa transformar.

Se não for assim, é tarefa que qualquer um faz e Deus não escolhe qualquer um para ser seu discípulo e missionário.

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UMA PROVA DE AMOR DIÁRIA

Que a minha ânsia de sonhar uma catequese melhor, não me transforme num arrogante.
Que a força que me anima a querer fazer coisas diferentes, não me traga a soberba.
Que a indignação não me transforme numa pessoa sem diálogo.
Que a ênfase das minhas palavras, não me faça grosseiro com as pessoas. Que a dor, não me torne vingativo.
E que o êxito não me transforme num eufórico.

Que a alegria em servir, não me transforme num cego.
Que eu possa divergir, discutir, avaliar, refazer rumos, recomeçar sempre, mas que isso não me transforme num teimoso sem causa.

A catequese é minha vida. Por ela, eu luto, me dedico, enfrento situações adversas. Mas que esta paixão não me transforme num intransigente, daqueles que não conseguem observar e nem o ouvir o que os outros podem acrescentar às suas idéias.

Que meu sorriso, não me transforme num tolo.
Que a minha segurança, não me tire a humildade.
Que minha luta, não seja apenas “a minha luta”.
Que minhas orações sejam sempre de agradecimento.
Que eu me ajoelhe e reze mais.
Que eu entregue mais a minha missão de catequista nas mãos de Deus.

A catequese é uma constante prova de amor. Diária, contínua e constante.
O catequista que ama a catequese, vive em contradição com o mundo.
Ele é paz em meio às guerras. É amor diante do ódio. É calma diante da pressa. É diferente no meio de iguais. É divino no meio do humano.

Que minha missão seja sempre a certeza de que sou instrumento, apenas um instrumento, nas mãos de Deus.
Nada mais do que isso.

É nesta "aparente" pequenez, que me torno grande. E na grandeza, me torno forte. E na força, me torno útil. E na utilidade eu me torno parte.

A catequese é um todo. Sou apenas uma parte!


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Vaidades
* Por Alberto Meneguzzi
 Tenho prestado atenção nos relatos que muitos catequistas fazem a respeito da catequese em todo o país. São muitas reclamações. Boa parte dos catequistas anda desmotivada.
A alegação é de que não conseguem encontrar o caminho correto, a fórmula ideal, a dinâmica certa para os encontros semanais. Isso tira o ânimo. Mas não é só isso que leio e ouço dos catequistas e coordenadores de catequese de diversas comunidades. Fico surpreso ao saber que as reclamações não são apenas em relação a crianças e jovens que não estão nem aí para a catequese, ou de pais pouco participativos e interessados. A reclamação tem sido outra e é isso que mais me preocupa. Catequistas andam reclamando de catequistas. Sim, é isso mesmo. A reclamação tem sido generalizada. Não está havendo entendimento entre as pessoas que deveriam ser as primeiras a procurar o entendimento e a trilhar um caminho comum. Catequistas não estão conseguindo dialogar com outros catequistas. Divergem de coisas que poderiam ser superadas com uma  simples conversa. Não dialogam. Surgem mágoas. Não há perdão. Existem fofocas. Não existe relação. E o ambiente acaba se tornando motivador e desencadeador de uma evangelização deficiente.
Ora, como evangelizar os outros, se não nos entendemos com os nossos colegas catequistas, que estão no mesmo barco? Como pregar o perdão, se não perdoamos? Como passar o respeito se não consigo respeitar o meu colega catequista nas suas diferenças? É terrível isso. Problemático também.
A catequese tem enfrentado um grave problema de relacionamento entre os próprios catequistas. Isso tem sido o motivo de muitas desistências no meio do caminho. É como se encarássemos este tipo de problema no trabalho, em casa, com amigos, mas que não conseguíssemos de maneira alguma enfrentá-lo quando acontece no grupo de catequistas.
Não existe perfeição num ambiente onde convivem várias pessoas. Mas o exercício de qualquer catequista deve ser o de sempre procurar o entendimento, o diálogo, o perdão. Do contrário, que efeito tem a catequese se estou de cara amarrada com outro catequista e se eu não gosto da coordenadora?
Este tipo de situação tem me chamado atenção. Mas é preciso saber que também na catequese encontraremos dificuldades de relacionamento, divergências e diferenças. Mas o importante é saber como resolver isso, dentro de um espírito cristão e de harmonia.
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Uma interessante reflexão para fazermos neste Ano Sacerdotal.

Sobre os nossos padres

Os Padres deveriam ser nossos pastores. Atores diretos e não coadjuvantes.
Deveriam estar na cena principal e não escondidos atrás das câmeras.
Trata-se, sim,  do protagonismo confiado a eles.

Nossos padres deveriam ser protagonistas de um novo jeito de evangelizar.
Poderiam puxar o rebanho com ardor, vontade, coragem, atitude, verdade. Poderiam estar na linha de frente, arrebanhando ovelhas, colocando-as num mesmo caminho. Não estão fazendo. Não é regra, mas uma boa parte, não faz.

Vejo um clero cansado, sem forças, desanimado, sem vontade de sair da vala comum. Parecem não fazer  parte de um todo. São apenas padres, celebrantes.
Não são mais pastores, incentivadores, mobilizadores de um novo jeito.

Em muitas comunidades, não existe mais a figura do Padre, daquele que impõe respeito por ser líder e não por seu autoritário. Terceirizaram-se as pastorais. Tudo está nas mãos dos leigos. Os leigos passaram a ser protagonistas. Estão na linha de frente. Se bobear, celebram até missa, fazem confissões e tudo mais.

Os leigos passaram a ter um papel fundamental na Igreja. Somos milhões de serviçais, voluntários, cristãos que trabalham, que descruzam os braços. Mas não somos Padres. Somos leigos. Nossa força tem limites, embora não a limitemos, e prossigamos trabalhando.

Falo dos Padres. Do Pároco. Daquele que preside. Da figura ordenada e consagrada. Dos homens que assumiram o compromisso de serem pastores, abrindo mão de tantas coisas.   Falo desses.  Porque muitos se escondem? Por que tantos se ausentam? Porque não se apresentam para o trabalho, porque não são intermediários de uma nova proposta? Porque não nos animam?

Porque não aparecem nos encontros que organizamos?

Os padres... Difícil alguém questioná-los. Muitos estão acima do bem e do mal. Aprendemos a respeitá-los, precisamos rezar por eles. Também eles precisam rezar por nós. Mas a Igreja precisa ter de volta seus padres, para que nós leigos, possamos continuar trabalhando pelo projeto de Jesus Cristo. Sozinhos, não somos fortes. Juntos, fortíssimos.

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