quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Getsêmani

Getsêmani

"Fazia tempo que meu coração não se angustiava com tamanha força. Fazia tempo que eu não me sentia tão para baixo. Fazia tempo que  eu não andava tão desanimado. Hoje me peguei assim: não sorri, fiquei mais calado, pouco animei os outros. Meu coração se angustiou. Nem mesmo pensar na catequese transformou o meu rosto que esteve fechado e sem brilho. Senti-me só, vazio de tudo, de amigos, de família, de sentimentos, de perspectivas, de ânimo, completamente vazio. Deserto total. O que fiz foi rezar, mesmo sem forças, pedi ao Pai forças para rezar. Pedi, de forma ardorosa, que Deus tirasse  de mim estes sentimentos desconfortáveis. Pedi forças para continuar agindo em prol do seu projeto. Pedi forças para voltar a sorrir e com isso, ser motivo para que outros também pudessem sorrir. Pedi forças para continuar acreditando na minha missão como catequista, para que outros também possam acreditar. Pedi forças para que meu coração se aquietasse e que eu pudesse enxergar neste momento, a certeza de dias melhores.

Foi um dia de completo deserto, de uma agonia tremenda, de um isolamento terrível e de uma solidão assustadora. Senti-me frágil, cansado, desiludido, triste, sem ânimo algum. E foi nesta hora que me lembrei de Jesus no Monte das Oliveiras. Lembrei-me do curso de teologia que fiz recentemente. Numa das aulas, o professor destacou a seguinte passagem que fechou com os meus sentimentos. Fui até o evangelho de Lucas (22, 39-46) e reli tentando encontrar nele  um consolo. Decidi reescrever a passagem bíblica. “Jesus saiu e como de costume, foi para o monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, Jesus disse para eles: “Rezem para não caírem em tentação”. Então se afastou uns trinta metros e então começou a rezar.” Diz a bíblia que neste momento Jesus foi tomado de angústia e com isso, rezava com mais insistência. No evangelho, Lucas relata ainda: “Seu suor se tornou como gotas de sangue, que caíam no chão. Levantando-se da oração, foi para junto dos discípulos e os encontrou dormindo, vencidos pela tristeza. E perguntou-lhes: ‘Por que vocês estão dormindo? Levantem e rezem, para não caírem em tentação’.”

Pelo que sei, este foi o momento de grande agonia de Jesus,  no Getsêmani, lugar conhecido também como a gruta da traição. Foi ali que Judas o entregou aos soldados. Foi ali, naquele instante, o momento da total consciência do que ia acontecer. Foi por isso que Jesus disse: “Afasta de mim este cálice, mas seja feita a tua vontade”, ou seja, certeza de qual era sua missão, mas também, um instante de agonia, abandono, solidão, fraqueza, em que a oração foi ainda forte e decisiva para enfrentar um momento delicado na sua caminhada. Jesus, neste momento, teve plena consciência de que morreria e do que o seu sofrimento significaria para a humanidade. Ainda, naquele instante, esteve presente também a traição daquele que Jesus confiou para ser um dos doze. Depois, Jesus ainda teve que assistir a deplorável cena dos apóstolos, seus seguidores, dormindo numa hora tão importante como aquela.

Getsêmani. Senti-me assim hoje. Agonia total. Total abandono e solidão. Tenho certeza de que muitos dos que lêem este texto também se sentem assim, às vezes, dispostos a largar tudo, tentados a desistir, sentindo-se fracos e descrentes em suas próprias forças.

Hoje, senti-me assim. 

E o Pai, que nunca nos abandona, me mandou um recado direto através do e-mail de uma “catequista anjo”, que mesmo a milhares de quilômetros de distância de mim, pressentiu  a minha tristeza e me enviou a seguinte frase “A melhor coisa que a gente faz para suportar essa pressão enorme encima da gente é fazer aquilo que Jesus fez, prostrar-se ao chão, chorar um pouco (não somos de ferro), rezar e encontrar, através da oração, forças em Deus para continuar a caminhada. A catequese precisa da gente!”

Getsêmani! Que sejamos humildes para reconhecer nossas fraquezas, mas que sejamos divinos para entender que o nosso sofrimento é nada perto do que Jesus passou. A cruz é o desafio. Não dá pra desistir quando entendemos a cruz."

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