A foto esta posta da seguinte maneira: jovens sorridentes, bem vestidos, com livros e cadernos na mão. No topo da página está colocada a seguinte manchete: “ É preciso preencher a cabeça deles”. A matéria da revista Veja trata do desempenho pífio de jovens brasileiros no Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM. A matéria começa citando uma história acontecida nos anos 50. “Quando o prêmio Nobel de Física Richard Feynman esteve no Brasil, ficou assombrado com o que viu. Ao tomar contato com estudantes às vésperas do vestibular, espantaram-no tanto o pendor local pela decoreba de fórmulas com a completa ignorância sobre o seu significado.” Mais adiante, a reportagem cita o sociólogo Simon Schwartzman. Ele analisa o sistema de educação brasileiro dizendo que as aulas são rasas, desinteressantes, incapazes de preparar estudantes do século XXI para disputar espaço em um mercado de trabalho global no qual a capacidade de inovar é cada vez mais valiosa.
Esta é a análise que a revista faz na sua edição deste final de semana, sobre as aulas e o desempenho dos estudantes na prova do ENEM.. A reportagem destaca algumas razões que explicam o cenário de terra devastada, que começa pelo despreparo dos professores. “ A maioria deles desembarca na sala de aula sem nenhuma estratégia para despertar o interesse de jovens inseridos em um mundo no qual o saber enciclopédio deixou de fazer sentido diante da internet.”
E para ficar em apenas mais uma citação da reportagem da Veja, a matéria diz que o ensino médio brasileiro se apoia em uma equação que não tem como dar certo: em nenhum outro lugar do mundo se despeja tanto conteúdo na lousa em tão pouco tempo. E qual a lição que fica das escolas brasileiras que tiveram as melhores notas? Os alunos passam pelo menos seis horas na escola – duas a mais que a média brasileira. Todos os professores têm ensino superior completo e são permanentemente estimulados a continuar estudando. As aulas são planejadas e não intuitivas, como é tão comum em escolas brasileiras. Os diretores são figuras presentes na rotina escolar e a indisciplina é prontamente punida.
Introduzi este texto que trata do ensino brasileiro, para chegar até a realidade da catequese na nossa Igreja. Façamos um exercício de colocar o texto acima no contexto catequético, será que não chegaríamos as mesmas conclusões? E se fizéssemos uma espécie de ENACA- Exame Nacional de Catequese- com os nossos jovens e catequistas, que notas teríamos? Se arriscássemos numa análise mais profunda das condições de trabalho dos catequistas, do interesse real de nossas paróquias e comunidades com a evangelização de crianças e jovens e se entrássemos fundo na capacidade e formação de nossos catequistas, que resultados teríamos?
Já que muitos catequistas ainda insistem em fazer de seus encontros, aulas e já que muitas paróquias fazem da catequese uma ação semelhante a qualquer escola normal; já que temos muito padres que se mostram ausentes do processo evangelizador, são poucos participativos no planejamento e no envolvimento com a catequese; já que os jovens e crianças, quando “saem” da catequese se dizem aliviados e muitos nunca mais sequer passam na frente da igreja; já que temos pais omissos, pouco interessados e que terceirizam a educação da fé de seus filhos, bem igual ao que fazem com a escola normal; Já que tanta coisa que acontece na catequese é muito parecida com o que acontece no ensino brasileiro, é possível fazer uma relação e considerar alguns aspectos.
A catequese, tal qual é feita na maioria das paróquias, é inútil. Vai do nada para lugar algum. Temos em boa parte das paróquias, catequistas despreparados, sem formação e que atuam apenas na boa vontade. E dessa forma, a catequese não toca, não transforma e em alguns casos, apenas anima. Os jovens e as crianças saem da catequese sem nenhum aprendizado. Não querem aprender. Não estão afim. Os encontros são, invariavelmente, mau planejados. A catequese, com raras exceções, anda sem planejamento algum na maioria das paróquias. E por isso não consegue tocar corações e fazer transformações necessárias.
Não estou sendo pessimista e fazendo terra arrasada. Mas é essa a realidade que eu vejo em muitas comunidades e paróquias e nos contatos com catequistas de todo o Brasil. Sendo um catequista, também noto que é muito difícil passar alguma coisas para estes jovens. Apesar do meu esforço, eles parecem não estar afim das coisas de Deus. Mas não é apenas nas coisas de Deus. Eles não estão afim de nada. Não querem saber da escola, muito menos de estudar. Desrespeitam os pais e estão cada vez mais empenhados apenas nas relações virtuais.
Se a escola naõ consegue esta transformação e os resultados do ENEM são a prova disso, como a catequese vai transformar corações, falando das coisas de Deus, da maneira que estamos atuando?
Esses dias conversei demoradamente com o Irmão Nery. Ele esteve em Caxias do Sul. O irmão Nery é uma sumidade em catequese. Escreveu mais de 50 livros sobre o assunto. Ele me disse o seguinte: “ A catequese precisa trabalhar com os adultos. Precisa priorizar os adultos”. Fiquei com isso na cabeça. Ele não é o primeiro a me dizer isso. As vezes, eu acho que deveríamos abandonar esta catequese com jovens e crianças. Ela não leva a nada. O resultado é quase nulo. Estes encontros semanais são irrelevantes, cansativos, sem graça e não deixam marcas. É assim na maioria das paróquias. E nós, catequistas, nos cansamos com tanto descaso.
Quando eu participo de encontros como o que eu participei na semana passada num final de semana inteiro, planejado, organizado, com momentos de alegria, música e espiritualidade, onde os catequistas também foram contemplados com formação e onde teve também, um momento especial com os pais, aí eu me animo novamente. Precisamos de um novo primeiro anúncio. Encontros fortes, momentos de testemunhos, de participação coletiva são mais “tocantes” do que qualquer encontro semanal. O kerigma que arriscamos fazer por aqui, encontros de dois dias com experiências fortes de oração e encontro, tem surtido um efeito incrível. E o efeito desses encontros se espalha para catequistas, perpassa pelos pais e atinge em cheio os jovens. No último encontro desses moldes que participei na cidade de Carlos Barbosa, próxima aqui de Caxias do Sul, até o Padre se mostrou emocionado com tudo que aconteceu.
Por isso, me convenço, que esta fórmula de encontros semanais sem planejamento, sem oração, sem bíblia, com catequistas sem preparo, sem formação, sem espiritualidade, com padres ausentes do andamento da catequese, esta fórmula não funciona, é tempo perdido. Encontros assim, catequese que anda nesse ritmo, imita a escola. Catequistas assim, imitam professores. E imitar um sistema educacional fracassado, não é a melhor maneira de evangelizar. ( Alberto Meneguzzi)
Esta é a análise que a revista faz na sua edição deste final de semana, sobre as aulas e o desempenho dos estudantes na prova do ENEM.. A reportagem destaca algumas razões que explicam o cenário de terra devastada, que começa pelo despreparo dos professores. “ A maioria deles desembarca na sala de aula sem nenhuma estratégia para despertar o interesse de jovens inseridos em um mundo no qual o saber enciclopédio deixou de fazer sentido diante da internet.”
E para ficar em apenas mais uma citação da reportagem da Veja, a matéria diz que o ensino médio brasileiro se apoia em uma equação que não tem como dar certo: em nenhum outro lugar do mundo se despeja tanto conteúdo na lousa em tão pouco tempo. E qual a lição que fica das escolas brasileiras que tiveram as melhores notas? Os alunos passam pelo menos seis horas na escola – duas a mais que a média brasileira. Todos os professores têm ensino superior completo e são permanentemente estimulados a continuar estudando. As aulas são planejadas e não intuitivas, como é tão comum em escolas brasileiras. Os diretores são figuras presentes na rotina escolar e a indisciplina é prontamente punida.
Introduzi este texto que trata do ensino brasileiro, para chegar até a realidade da catequese na nossa Igreja. Façamos um exercício de colocar o texto acima no contexto catequético, será que não chegaríamos as mesmas conclusões? E se fizéssemos uma espécie de ENACA- Exame Nacional de Catequese- com os nossos jovens e catequistas, que notas teríamos? Se arriscássemos numa análise mais profunda das condições de trabalho dos catequistas, do interesse real de nossas paróquias e comunidades com a evangelização de crianças e jovens e se entrássemos fundo na capacidade e formação de nossos catequistas, que resultados teríamos?
Já que muitos catequistas ainda insistem em fazer de seus encontros, aulas e já que muitas paróquias fazem da catequese uma ação semelhante a qualquer escola normal; já que temos muito padres que se mostram ausentes do processo evangelizador, são poucos participativos no planejamento e no envolvimento com a catequese; já que os jovens e crianças, quando “saem” da catequese se dizem aliviados e muitos nunca mais sequer passam na frente da igreja; já que temos pais omissos, pouco interessados e que terceirizam a educação da fé de seus filhos, bem igual ao que fazem com a escola normal; Já que tanta coisa que acontece na catequese é muito parecida com o que acontece no ensino brasileiro, é possível fazer uma relação e considerar alguns aspectos.
A catequese, tal qual é feita na maioria das paróquias, é inútil. Vai do nada para lugar algum. Temos em boa parte das paróquias, catequistas despreparados, sem formação e que atuam apenas na boa vontade. E dessa forma, a catequese não toca, não transforma e em alguns casos, apenas anima. Os jovens e as crianças saem da catequese sem nenhum aprendizado. Não querem aprender. Não estão afim. Os encontros são, invariavelmente, mau planejados. A catequese, com raras exceções, anda sem planejamento algum na maioria das paróquias. E por isso não consegue tocar corações e fazer transformações necessárias.
Não estou sendo pessimista e fazendo terra arrasada. Mas é essa a realidade que eu vejo em muitas comunidades e paróquias e nos contatos com catequistas de todo o Brasil. Sendo um catequista, também noto que é muito difícil passar alguma coisas para estes jovens. Apesar do meu esforço, eles parecem não estar afim das coisas de Deus. Mas não é apenas nas coisas de Deus. Eles não estão afim de nada. Não querem saber da escola, muito menos de estudar. Desrespeitam os pais e estão cada vez mais empenhados apenas nas relações virtuais.
Se a escola naõ consegue esta transformação e os resultados do ENEM são a prova disso, como a catequese vai transformar corações, falando das coisas de Deus, da maneira que estamos atuando?
Esses dias conversei demoradamente com o Irmão Nery. Ele esteve em Caxias do Sul. O irmão Nery é uma sumidade em catequese. Escreveu mais de 50 livros sobre o assunto. Ele me disse o seguinte: “ A catequese precisa trabalhar com os adultos. Precisa priorizar os adultos”. Fiquei com isso na cabeça. Ele não é o primeiro a me dizer isso. As vezes, eu acho que deveríamos abandonar esta catequese com jovens e crianças. Ela não leva a nada. O resultado é quase nulo. Estes encontros semanais são irrelevantes, cansativos, sem graça e não deixam marcas. É assim na maioria das paróquias. E nós, catequistas, nos cansamos com tanto descaso.
Quando eu participo de encontros como o que eu participei na semana passada num final de semana inteiro, planejado, organizado, com momentos de alegria, música e espiritualidade, onde os catequistas também foram contemplados com formação e onde teve também, um momento especial com os pais, aí eu me animo novamente. Precisamos de um novo primeiro anúncio. Encontros fortes, momentos de testemunhos, de participação coletiva são mais “tocantes” do que qualquer encontro semanal. O kerigma que arriscamos fazer por aqui, encontros de dois dias com experiências fortes de oração e encontro, tem surtido um efeito incrível. E o efeito desses encontros se espalha para catequistas, perpassa pelos pais e atinge em cheio os jovens. No último encontro desses moldes que participei na cidade de Carlos Barbosa, próxima aqui de Caxias do Sul, até o Padre se mostrou emocionado com tudo que aconteceu.
Por isso, me convenço, que esta fórmula de encontros semanais sem planejamento, sem oração, sem bíblia, com catequistas sem preparo, sem formação, sem espiritualidade, com padres ausentes do andamento da catequese, esta fórmula não funciona, é tempo perdido. Encontros assim, catequese que anda nesse ritmo, imita a escola. Catequistas assim, imitam professores. E imitar um sistema educacional fracassado, não é a melhor maneira de evangelizar. ( Alberto Meneguzzi)
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