sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A menina de Franca

Catequese: ser feliz ou ter razão?
No final do encontro com catequistas na cidade de Franca,interior de São Paulo, em 2008, uma menina, de aproximadamente dez anos, veio correndo até mim e me deu um caloroso abraço. Mas não foi qualquer abraço. Foi um abraço e tanto. Ela estava no encontro junto com a mãe, uma catequista que participava daquele momento que foi muito especial e eu tive a honra de participar.  Mais tarde, quando já íamos embora, visualizei a menina novamente. Fiz um sinal para ela de que eu queria um outro abraço. Ela estava tomando um café e comendo um pedaço de bolo. Largou  tudo,  veio correndo até mim e se jogou nos meus braços. Dei um beijo no rosto dela e recebi também um beijo como resposta. Ela me olhou, e disse-me "Eu jamais vou esquecer de ti".
Isso é felicidade! Isso é ser feliz.
Ás vezes sou muito intransigente nas minhas concepções sobre catequese. Quero as coisas certas, muito certas. Esta minha veemência, por vezes, me torna um chato. Nem tudo sai como a gente planeja e em muitas ocasiões, nem planejamento dá para fazer. Mesmo assim, insisto, bronqueio, me estresso e com isso, até um desânimo se apossa de mim. Quando paro e analiso minhas atitudes, logo descubro: eu sempre quero ter razão.Podemos, como catequistas, coordenadores e lideranças pastorais, buscar a felicidade ou querer ter razão. Ser feliz ou ter razão? É esta a pergunta que tenho feito para mim mesmo nos últimos dias
Buscar ser feliz naquilo que fazemos no trabalho  comunitário  não significa que devamos abrir mão de organização e planejamento e muito menos de nossas convicções para uma catequese ainda melhor. Não se trata disso. Ser feliz é levar as coisas menos a ferro e fogo, é diminuir um pouco a intransigência e aprender a dialogar mais com os diferentes. Isso é ser feliz. Ter razão é bom, mas na medida certa, sem prepotência e individualismo. A humildade é fundamental quando queremos ter razão nas coisas.
Confesso que em muitas ocasiões, me falta esta humildade em reconhecer que nem tudo tem o meu tempo. Preciso ter calma.Na catequese, em muitas situações eu quero ter razão. Por isso discuto, digo as coisas sem rodeio, brigo pela catequese, insisto em coisas diferentes. Acho que estas idéias que eu concebi ao longo de 25 anos como catequista sustentam minhas teorias a respeito dos assuntos que trato. Quero ter razão. Ao mesmo tempo, nem tudo o que o penso, luto, batalho e quero para a catequese, acontece. É normal. Não será de uma hora para outra. Mas posso continuar batalhando para plantar esta semente agora esperando colher mais tarde. Posso ser menos intransigente, conviver com o diferente, suportar mais as coisas, não ser tão ansioso e inflexível e cuidar um pouco com as coisas que eu falo e com a maneira com que digo. Isso é ser feliz!
Preciso ser mais feliz quando o assunto é catequese. Estou sempre acelerado, querendo mudanças urgentes, desafiando tradições enraizadas. Acho que serei sempre assim, é do meu caráter. Talvez, o que precise acontecer, é mudar o tom, a fórmula, a maneira, a estratégia e a tática de luta.  Isso não significa fraqueza.
Preciso ser mais feliz na catequese. O abraço da menina de Franca, no final de encontro de catequistas no qual participei no dia 31 de agosto de 2008, me tocou profundamente. Foi um abraço sincero, livre, espontâneo e cheio de felicidade. É como se ela me dissesse "Eu gostei de você e sou mais feliz por sua causa. Então, seja mais feliz também".
Entre ser feliz e ter razão, eu quero ser mais feliz.
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