quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Máscaras


"Forte, alegre, disposta, disponível para todo e qualquer tipo de atividade na Igreja, ela sempre foi vista como uma rocha pelos demais catequistas. Casamento aparentemente perfeito, família criada, filhos bem encaminhados, boas condições financeiras. Aparentemente, tudo na vida dela andava às mil maravilhas. Servia de espelho, de exemplo para outras pessoas. Por isso, foi surpresa quando depois de mais em encontro de catequistas da sua paróquia, ela tenha desabado daquela forma. Chorou copiosamente da frente de todos. Pediu apoio. Pediu que lhe ouvissem. Pediu apenas um pouco da atenção. Foi um grito de socorro. Abriu o jogo. Enfrentava problemas pessoais. Não quis relatar quais, apenas desabou em lágrimas. O restante da turma parecia não acreditar no que  via. Ela sempre havia transmitido muita segurança. Parecia uma fortaleza. Jamais alguém tinha visto ela chorar desta forma. O que poderia ter acontecido?
           
Esta cena aconteceu numa comunidade do estado de São Paulo. Ela, a quem me refiro, é uma grande amiga virtual. Uma pessoa especial, cheia de vida, corajosa, que pensa a catequese de forma diferente. É uma liderança respeitada na sua comunidade, arregaça as mangas e parte sempre para a luta. Por isso  ficou a imagem desta pessoa perfeita, sem problemas, feliz, sem dúvidas, forte. Quando uma pessoa assim desaba, a surpresa é grande para quem vive próximo.

Cai a máscara.
            
Usamos máscaras. Também uso, as vezes, não pense que não. Isso é ruim.  Na maoria das vezes, nem percebemos que estamos com elas. Quando nos despimos de pudores e armações e exauridos não agüentamos mais o repuxo, alguém trata de nos mascarar Sim, quando estamos “nús”, livres de nossos medos e inseguranças, prontos para mostrarmos quem realmente somos, aparece alguém que nos recoloca a vestimenta. Fracos, acostumados com este tipo de situação, vamos aceitando. Aceitamos uma, duas, três vezes e por aí vai. Mascaramos sentimentos, fragilidades, medos, lágrimas, somente  para agradar os outros.  E pelos outros continuamos mascarados, guardando a vontade de gritar que precisamos de ajuda e que não estamos tão fortes e felizes quando parecemos estar.

            É assim, tem sido assim. Vejo muito isso. Ouço muito isso de muita gente: “ eu não agüento mais não ser eu mesma. Estou no meu limite”. É o que me dizem ou deixam transparecer nas entrelinhas muitos dos catequistas com os quais mantenho contato pela internet. Não apenas eles, mas as pessoas com os quais me relaciono por aqui, também demonstram se utilizarem das máscaras. Usamos máscaras no casamento. Máscaras nas relações com os amigos e colegas de trabalho. Máscaras com as pessoas que estão no mesmo projeto que a gente no trabalho de Igreja. Máscaras com os filhos. Máscaras, máscaras, máscaras, a todo instante, conforme a conveniência e  a oportunidade. Tudo por causa dos outros, para que nos vejam bem, felizes, sorridentes, fortes, animados  e, com isso, nos acolham e aceitem. E  de certa forma, isso nos conforta. É melhor que os outros  não nos vejam como realmente somos. Por isso, máscaras!
           
Mas um dia,  elas caem e este momento machuca, é dolorido, pesado. A máscara vai nos consumindo lentamente, criando em nós um ser que não somos e um dia chegamos ao  nosso limite. Ninguém em sã consciência consegue, durante uma vida inteira, viver assim, " fazendo de conta" para ser aceito, reconhecido, bajulado. Um dia, chegamos ao limite. O mundo desaba
 Esta vida  é dura e difícil, e por isso mesmo, não precisaria de tantas máscaras.
Precisamos reaprender a ser nós mesmos, e não apenas o que os outros querem que sejamos. Não é preciso perfeição, mas sim, que sejamos puros, vazios de nós mesmos, verdadeiros nos sentimentos, transparentes e interessados no enfrentamento de nossos próprios dilemas. Os outros, se nos amam verdadeiramente, serão os responsáveis por derrumar nossas máscaras e nos ajudar a viver de cara limpa. Ficar criando tipo, não constrói e nem edifica.                          

 Não existe nada que possa mascarar a nossa relação com o Pai. Ele nos conhece de forma absurda. E se com Ele, a nossa  relação é de absoluta cumplicidade e verdade, porque não pode ser  assim também  com os outros?" ( Alberto Meneguzzi, 17 de agosto, 18h51min)

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